No final do terceiro ano, a proposta curricular indica que o processo de alfabetização deve ser finalizado. Só que quando pegamos as produções das crianças, percebemos uma necessidade de ampliar o vocabulário, de trabalhar a coerência e diversos outros aspectos do texto.
Muitas vezes, os alunos são obrigados a ler sem que o prazer pela leitura seja despertado. Então, percebi que isso poderia ser feito de uma forma mais prazerosa. Assim, propus a elaboração de um filme de massinha** que seria produzido pelas crianças a partir da releitura de um livro de literatura infantil.
Eu comecei apresentando a eles a história do cinema. Contei sobre a relação entre alguns filmes e obras de literatura e os profissionais envolvidos na produção. Enquanto isso, incentivava que buscassem livros na biblioteca da escola, fizessem a leitura e avaliassem se a obra poderia se tornar um filme ou não.
Após a leitura e avaliação, nós realizamos uma votação em sala de aula com os livros que foram julgados como bons para ser tornarem filmes. Para essa votação, cada criança apresentou um resumo da história lida, justificando porque ela poderia virar um filme. A escolhida foi “Vovó Dragão”, de Thaís Linhares.
Trabalhei com eles a diferença entre o resumo do livro e a sinopse. Depois que os estudantes criaram uma sinopse para o filme, o próximo passo foi dividir a classe em equipes de produção. Havia a equipe responsável por fazer os personagens de massinha, outra responsável pelo cenário, outra pela fotografia, entre outras funções.
No dia da produção, foi possível perceber a posição crítica das crianças. Elas propunham mudanças no enredo e percebiam a necessidade da construção lógica das sequências das cenas, observando a relação entre elas e a estrutura de construção de um texto em prosa, que é divido em parágrafos. Também notaram a importância da coesão e coerência entre o tempo e os fatos.
Eu fiquei com a parte de editar o material: juntar as fotos e produzir o filme. Quando as crianças viram o resultado, ficaram admiradas e valorizaram o próprio esforço. Eles adoraram o trabalho, porque o cinema ainda é uma realidade distante, principalmente das escolas públicas. Com o projeto, eles estudaram a relação entre os livros e suas adaptações para o cinema, e gostaram muito de serem os protagonistas da produção.
Antes da realização dessa atividade, a ida à biblioteca era uma obrigação. Hoje, os alunos têm interesse em buscar outros conhecimentos e veem o livro como uma forma de descansar, relaxar. A escrita também melhorou muito. Eles têm mais cuidado com o texto.
Todo o material utilizado na produção foi dado pelos pais dos estudantes, já que não tínhamos o necessário na escola.
O projeto me fez perceber que, quando a gente vai além e envolve a parte prática, as crianças têm percepções diferentes e se veem até mesmo como profissionais que podem realizar determinada atividade. É muito legal vê-las sonhando com possibilidades que vão além daquilo que elas vivem.
**Veja aqui o filme produzido pela turma do terceiro ano.
Fonte: Porvir
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